O Feminino e os Livros: OUTRAS MULHERES
Mais um livro só encontrado em sebos; como diz minha amiga Lizandra: “lá vou eu para a Estante Virtual”.
OUTRAS MULHERES foi escrito pela americana Lisa Alther e editado pela editora Imago em 1986 e faz parte de uma coleção fantástica que eles tinham, chamada Romance e Psicanálise. Foi indicação de outra amiga querida, Neiva Bohnenberger. A Neiva me contou que lia o livro de pouquinho para ele não acabar.
O livro todo se passa durante o tempo de um processo terapeutico entre as duas personagens, Caroline Kelley e Hannah Burke.
Caroline, a paciente, tem 35 anos, é enfermeira, tem dois filhos pequenos, foi casada com um homem e no momento que começa o livro está num relacionamento longo com Diana, também enfermeira, com quem trabalha e divide a casa. Da estado dela o livro fala assim:
“Havia tentado todos os remédios comuns: casamento e maternidade, torta de maçã e monogamia, bigamia e poligamia, consumismo, comunismo e feminismo e Deus; sexo, trabalho, álcool, drogas e amor verdadeiro. Cada um funcionava por algum tempo, mas, no fim, não conseguia evitar o desepero. O único remédio que ela ainda não havia tentado era o psicoterapia”.
Óbvio que ela está profundamente deprimida!
Hanna, a terapeuta, é uma inglesa de cerca de 60 anos, que mudou para os Estados Unidos por ter casado, pela segunda vez, com um americano. Seu primeiro marido morreu durante a guerra e teve um filho com ele. Está há cerca de 35 anos com o segundo, com quem teve 3 filhos e dois deles morreram crianças num acidente doméstico. Foi a partir desse evento trágico que volta a estudar e se torna terapeuta.
O livro conta das sessões terapêuticas entre as duas e que acontece a cada uma delas entre as sessões, tanto no mundo externo como em seus mundos internos. É divido em três partes. A primeira termina com o seguinte diálogo entre as duas:
“ – Melhor – disse Caroline, percebendo que era verdade. O medo tinha-se erguido como a tampa de um caixão. Ela respirou fundo pela primeira vez em vários dias.
– E um desses dias você não vai mais precisar do exemplo de alguém que tem que suportar uma carga mais pesadado que a sua para se sentir melhor”. (diz Hanna).
A segunda termina com essa menção a Caroline:
“Ela acordou de repente e ficou quieta, deitada, com um sorriso nos lábios, sem se mover, com medo de dispersar o sentimento de gratidão que estava sentindo no coração”.
E a terceira parte e fim do livro é de Caroline, partindo da sua última sessão e se despedindo de Hanna, transformada pelo processo, porque, acima de tudo havia adquirida uma nova forma de ver a si mesma, aos outros e a vida.
Por essa descrição, pode parecer uma exaltação ao processo terapêutico, mas não é: é a história do encontro profundo e transformador que acontece entre essas duas personagens femininas inteligentes, sensíveis, bem-humoradas, honestas consigo mesmas e ao mesmo tempo sofridas, machucadas, vulneráveis. São personagens complexas e contraditórias e por isso parecem reais e adoráveis e podemos nos identificar com elas.
Eu também li devagar, saboreando a história aos pouquinhos como a Neiva, mas como adoro também reler, já me deleitei algumas vezes com esse livro!
PS: já indiquei e vou indicar mais alguns livros dessa coleção sensacional que a editora Imago tinha, mas devo dizer, as capas e a qualidade gráfica em geral são HORRENDAS ….então não se assustem, garanto que apesar do “embrulho” ser péssimo o conteúdo vale muito a pena!