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Páscoa na visão de Joseph Campbell

eva koleva

A Páscoa cristã une duas polaridades, o sofrimento da crucificação e a glória da ressurreição. E alguns perguntam: por que um deus teria que morrer assim? Nesse trecho do livro ISTO ÉS TU, Joseph Campbell dá sua visão disso, como sempre luminosa, consistente e amplifica relacionando esse evento cristão com o chacra do coração da tradição oriental.

“O que sempre é básico na Páscoa, ou ressurreição, é a crucificação. Se você quer ressurreição, você deve ter crucificação. Muitas interpretações da crucificação falharam em enfatizar esse relacionamento e ao invés disso enfatizam a calamidade do evento. Se você enfatiza a calamidade, você busca alguém para culpar, e por isso as pessoas culparam os Judeus.

Mas a crucificação não é uma calamidade se leva a uma nova vida. Através da crucificação de Cristo nós fomos libertados da concha, o que nos capacitou a nascer através da ressurreição. Isso não é uma calamidade. Por isso temos que ter um olhar renovado para este evento para que seu simbolismo seja percebido.

Se pensarmos na crucificação apenas em termos históricos, perdemos a referência imediata do símbolo para nós. Jesus deixou seu corpo mortal na cruz, o signo da terra, para ir a seu Pai, com quem ele era um. De maneira parecida, nós vamos nos identificar com a vida eterna dentro de nós.

O símbolo também nos fala da aceitação voluntária de Deus da cruz, quer dizer, de sua participação nas provações e tristezas da vida humana no mundo, de maneira que ele está aqui dentro de nós, não por causa de uma queda ou engano, mas por alegria e êxtase. Assim a cruz tem um sentido dual: um, nossa ida para o divino, a outra, da vinda do divino até nós. É uma verdadeira travessia.

Na tradição Cristã, a crucificação de Cristo é um grande problema: porque o salvador não poderia apenas ter vindo? Porque ele teve que ser crucificado?

Bem, várias explicações teológicas tem vindo até nós, mas eu acho que uma  explicação adequada e apropriada pode ser encontrada na Epístola de Paulo aos Filipenses, onde ele escreve no capítulo II que Cristo não achava que a Divindade era algo para ser mantido – o que quer dizer que nem você deve manter – mas, ao invés disso, entregue, ele tomou a forma de um servo até mesmo na morte na cruz.

Isso é uma afirmação feliz dos sofrimentos do mundo. A imitação de Cristo, então, é participar dos sofrimentos e alegrias do mundo, ainda que todo o tempo vendo através delas a radiância da presença divina. Isso é funcionar a partir do chakra do coração, onde os dois triângulos estão unidos.

É isso que vejo na Crucificação. De todas as explicações que tenho lido, é a única que faz aquilo que eu chamaria de um sentido respeitável. Os outros são todos preocupados com um deus vingativo que tem que ser apaziguado pelo sacrifício do seu filho. O que você faz com uma coisa dessas?

É uma tradução do sacrifício numa imagem muito bruta. A ideia de Deus sendo uma entidade que tem que ser acalmada é sórdida demais para ser concebida.”

Fonte: dharmalog

 

 

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