Às vezes o que é ruim é bom
Claro que sofremos quando a gente leva um tombo da vida, tem uma desilusão ou sofre uma perda. Mas, segundo antigas tradições e modernos junguianos, isso pode estar a serviço do Self, a parte mais profunda de nós mesmas. Em outras palavras, este pode ser o caminho para a individuação, a iluminação e a plenitude, substituindo o (falso) controle do ego.
“Nosso poder sobre as pessoas, sobre a natureza, sobre as coisas habitua-nos a uma ilusão de controle. Quando começa a falhar esse controle aparente, quando nossos filhos se tornam mais independentes e nos desafiam, quando o jardim que plantamos desaparece na geada, quando nosso carro quebra, ou quando alguém com quem contamos morre, nosso senso equivocado de identidade centrada no controle também fracassa. Em casos extremos, sentimos que estamos morrendo, que somos impotentes, sem valor.
O Self pode inclusive levar identidades forjadas no controle, grandiosas e pomposas, a fracassos radicais. Às vezes, o Self só aparece quando chegamos ao ponto da própria desolação.
Quando temos a atitude de que os relacionamentos podem conter o valor essencial e o principal significado de nossas vidas, praticamos uma espécie de idolatria. O Self tende a esfacelar essa idolatria de várias maneiras, inclusive levando-nos a ver que a outra pessoa não corresponde à nossa mais íntima e fundamental imagem anímica.
Além disso, o Self representa uma união de opostos internamente reconciliados. Enquanto corremos o mundo em busca desse oposto interior, podemos receber tratamento e conhecimentos disso que vive dentro de nós, sem, porém, perceber que a busca deve voltar-se para dentro. Essas imagens, quando projetadas em alguém num relacionamento, comportam possibilidades instintivas, sexuais, eróticas e espirituais.
Algumas pessoas parecem descobrir seu oposto interior por meio da relação, enquanto outras devem abandonar o nível idolátrico de relacionamento e voltar-se para dentro. Com o tempo, o Self cobrará novas formas de estar numa relação, que sejam fundadas num maior contato interior com o próprio oposto.
Quando permitimos que o Self influencie o nosso antigo modo de nos relacionar, abandonamos ou modificamos as projeções, em nome do amadurecimento”.
Fonte: Christine Downing – Espelhos do Self
Caindo como uma luva para meu dia