O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Shakti, a Deusa Mãe hindu

Shakti

Joseph Campbell conta aqui sobre a Grande deusa da mitologia hindu, que descreve o fundamento do nosso ser.

“Existe um Upanixade de cerca do século VII a.C. – exatamente a época em que a Deusa está começando a ressurgir também na região do Egeu – em que os deuses védicos estão reunidos e deparam com uma estranha espécie de coisa amorfa, no caminho, um tipo de neblina fumarenta, e perguntam: “O que é isso?” Nenhum deles sabe o que poderia ser.

Então, um deles sugere: “Vou descobrir o que é”. Esse, então, se dirige àquela coisa enfumaçada e diz: “Eu sou Agni, o Senhor do Fogo; posso queimar qualquer coisa. Quem é você?” E do meio da espessa neblina sai voando um pedaço de palha, que cai no chão, e uma voz diz: “Vamos ver você queimar isso”. Agni descobre que não é capaz de fazê-lo.

Ele então retorna até onde estão os outros deuses e diz: “Isto sem dúvida é muito estranho!” “Bem, então”, diz o Senhor do Vento, “deixe me tentar.” Ele vai e a cena se repete. “Eu sou Vayu, Senhor do Vento, posso arrastar qualquer coisa.” Outra vez uma palha é jogada ao chão. “Vamos ver se você pode arrastar isso.” Ele não consegue, e retorna.

Então Indra, o maior dos deuses védicos, se aproxima, mas, ao chegar perto, a aparição se desfaz e em seu lugar surge uma mulher, uma bela e misteriosa mulher, que se dirige aos deuses, revelando-lhes o mistério que fundamenta a eles próprios.

“Este é o supremo mistério de todo o ser”, ela lhes diz, “do qual vocês próprios receberam os seus poderes. E Ele pode pôr em ação os seus poderes ou neutralizá-los, conforme deseje.”

O nome hindu para esse Ser de todos os seres é Brahman, que é uma palavra neutra, nem masculina nem feminina. E o nome hindu para essa mulher é Maya Shakti Devi, “Deusa Doadora da Vida e Mãe de Todas as Formas”. E nesse Upanixade ela aparece como aquela que ensina aos deuses védicos sobre o fundamento e a fonte suprema do seu próprio ser e dos seus próprios poderes.

É a mulher como doadora de formas. Ela é quem dá vida às formas e sabe de onde estas provêm. Provêm daquilo que está além do masculino e do feminino; daquilo que está além do ser e do não ser. Aquilo que ao mesmo tempo é e não é. Nem é nem deixa de ser. Está além de todas as categorias da mente e do pensamento.”

Joseph Campbell, O Poder do Mito, Ed palas Athena

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