A boa maturidade traz pacificação
Benito Alonso
“A estrutura patriarcal em que vivemos castiga dura e cruelmente a mulher, especialmente na maturidade”, diz a psicóloga Marisa Sanabria numa das entrevistas de nosso livro Círculo de Mulheres. Ao mesmo tempo em que trabalha e escreve sobre o envelhecer, ela reflete sobre sua própria vida com a leveza e a sabedoria que a gente sente com seu riso aberto e fácil. Confira esse trecho:
“A fase da maturidade pode ser infernal se você espera reconhecimento, se não se reconcilia com sua história, com o que você construiu, com quem se tornou. Tenho algumas pacientes que vivem essa fase com um ressentimento tremendo, e isso é terrível.
Participo de um grupo de estudos sobre esse tema com umas 15 mulheres: geriatras, ginecologistas, psicólogas, mulheres que fazem cinema e outras tantas. E nós sempre falamos que a “boa” maturidade, além da condição material digna, além de ter grupos de amigas, tem que ver com a sensação de pacificação. A maturidade é esse lugar do entendimento, da pacificação de quem você é, das opções que você fez, da coragem de mudar o que ainda pode ser mudado e da aceitação do que é irreversível.
Escrevi um livro, chamado Crônicas para o desapego, que reflete a minha reconciliação com minha mãe e com o Uruguai. Eu via o Uruguai como um país sufocante, autoritário… Enfim, saí de lá com essa sensação. E já na maturidade consigo me conciliar tanto com minha mãe como com meu país de origem.
Aprendi que não preciso escolher. Posso amar o Uruguai, que me deu minhas raízes, minha formação; o Brasil, que me acolheu e onde construí minha vida adulta; e a Espanha, que me permitiu ampliar minha vida profissional. E como é importante essa reconciliação: entender nossa jornada, as pessoas que dela participaram, as rupturas dramáticas que fizemos na juventude, nossas escolhas, as consequências delas… Enfim, a aceitação sem ressentimento da gente mesma e da nossa história”.
Fonte: Círculo de Mulheres, as novas irmandades, Ed Summus, link no menu
