O Feminino e o Sagrado um jeito de olhar o mundo

Resenha do livro por Thais Prado

Thais é mineira, jornalista, e quer ser terapeuta. Em seu site, www.maistato.com.br, que procura resgatar o valor dos aspectos femininos, e já foi acrescentado aos dos amigos aí na coluna ao lado, fez essa bela adaptação do desenho da Cris e uma inteligente resenha do nosso livro, que com satisfação reproduzimos aqui. Você provavelmente já admirou ou admira muito alguém. O modo como aquela pessoa fala, a sabedoria que tem, tudo o que leu, estudou, viu, viveu, o centramento, o equilíbrio, a alegria, o brilho, a leveza, a profundidade, a doçura, a capacidade de compreender os mais diversos acontecimentos, a maneira como lida com as dificuldades da vida – aliás, parece que nada sequer é difícil para ela! E a vontade que você tem é de ser exatamente como ela. Talvez já tenha mesmo se perguntado: como eu faço para ser assim?
Eu me pergunto sempre. Há mais de uma década, observo bem o currículo das pessoas que admiro e vou adicionando pontos ao meu currículo ideal – fazer tais e tais cursos, ler o livro x, assistir ao filme y, conhecer o estilo de música z, passar um tempo naquele lugar sagrado, estudar esses e aqueles assuntos, conversar com fulana, sicrano e beltrana. E a lista aumenta na mesma proporção que a minha ansiedade em cumpri-la e, finalmente, ser como uma dessas pessoas tão incríveis que conheço – ou das quais já ouvi falar.

Ingenuidade minha. Ganhei um insight de presente, há alguns dias, quando li o livro “O Feminino e o Sagrado – Mulheres na Jornada do Herói”, de Beatriz Del Picchia e Cristina Balieiro. Por meio da jornada de 15 mulheres sensacionais, percebi que não é no currículo que se esconde o segredo dos seres notáveis – é na vida! E a vida é bem mais do que os cursos que fazemos, os livros que lemos, as viagens que nos permitimos – eu já deveria saber -, vai muito além do que apreendemos com nosso aparato intelectual.

A vida é feita de todos os dias, um após o outro, de todos os acontecimentos – principalmente daqueles que nos fazem olhar para cima e perguntar se alguém está zombando de nós ou se Deus (ou o nome que se quiser dar) resolveu nos abandonar ou mesmo nos sacanear. A vida é feita dos encontros, e também dos desencontros, de cada escolha, incluindo as mais tortas e, aparentemente, erradas, de pessoas que aparecem do nada e transformam quase tudo, dos pais, dos parceiros, dos filhos, da ausência deles, da dor, do alívio, da alegria, da depressão, dos sonhos, das perdas, dos ganhos, de absolutamente tudo o que há entre a primeira inspiração e a última expiração – e, por que não, do que veio antes e do que vem depois disso também – de cada um de nós. É de tudo isso que as pessoas fantásticas que você admira são feitas.

Acontece que, normalmente, desconhecemos um bom pedaço de suas histórias e nos atemos apenas ao brilho que elas carregam depois de terem traçado uma trajetória inteira e estarem, agora, na plena expressão de sua essência, no auge de sua contribuição para o mundo.

É isso o que nos mostram, com muita delicadeza, Beatriz e Cristina, ao relatarem, com base na teoria da “jornada do herói”, do filósofo Joseph Campbell, as jornadas que percorreram: Ana Figueiredo, Andrée Samuel, Bettina Jespersen, Maria Aparecida Martins, Heloísa Paternostro, Jerusha Chang, Mônica Jurado, Monika von Koss, Neiva Bohnenberger, Regina Figueiredo, Renata Ramos, Rosane Almeida, Sandra Sofiati, Solange Buonocore e Soninha Francine. Ao ler essas histórias, tive duas sensações principais. A primeira foi uma espécie de “Ah, agora sim! Depois de passar por tanta coisa, faz sentido que ela seja tudo isso que é hoje”. Ao mesmo tempo, a cada relato, especialmente os das mulheres que já conhecia pessoalmente, eu era tomada por uma admiração ainda maior: “E depois de passar por tanta coisa, ela ainda conseguiu ser tudo isso!”.

De algum modo, todo ser humano tem sua jornada nessa existência. O que diferencia então os heróis mitológicos e os heróis e heroínas que conhecemos do restante da humanidade? Eles aceitaram o que Joseph Campbell denomina de “chamado à aventura”. Tiveram a coragem de romper com o mundo cotidiano e seguir por uma nova trilha, guiados pelo coração, pela intuição, por um apelo maior, muitas vezes difícil de ser identificado, mas que convida aquele ser a experimentar o novo. “A experiência subjetiva do chamado traz a sensação de rompimento com o conhecido, de um corte da vida como sempre havia sido, de algo que se quebra e não pode mais voltar à forma original”.

Pode até ser que algumas das heroínas tenham se recusado, por algum tempo, a seguir esse chamado, se apegando ao antigo em suas vidas, afinal, não é mesmo fácil abrir mão do que nos é familiar, em nome de algo que sequer sabemos o que é, do que se trata e aonde pode nos levar. Felizmente, nos dizem as autoras, “se o chamado pode ser protelado, recusado e até distorcido, parece que a vida não desiste nunca. Ou a insatisfação, a sensação de vazio e de falta de sentido retornam ainda mais prementes, ou acontecem novas atribuições e eventos externos no mesmo sentido”.

Dito “sim”, a jornada propriamente dita começa. Nessa fase, a heroína passa por uma série de “provas” e situações difíceis e a busca por respostas é intensa. Por mais que haja desafios, o Universo parece sempre conspirar a favor dos seres que estão dispostos a se tornar, cada vez mais, quem verdadeiramente são. E uma série de pessoas e situações podem aparecer para ajudar o herói ou a heroína a seguirem esse novo rumo. Também é possível que alguns dons totalmente desconhecidos sejam despertados e mesmo que apareça um ou mais mestres para auxiliar e inspirar quem está apenas começando. Ao longo do caminho, quem o percorre vai se transformando, surgem novos aprendizados, muitos conceitos se modificam, pode-se adquirir outros valores e formas inovadoras de ver e experimentar o mundo.

E quando o caminhante pensa que já atravessou tudo o que podia, pode ser que surjam mais mudanças e novos desafios, verdadeiros convites para que se mergulhe cada vez mais fundo dentro de si mesmo. Algumas heroínas relatadas no livro passaram, inclusive, por uma “situação-limite”, uma espécie de prova final antes da recompensa.

E a recompensa, a que Joseph Campbell chama de “bliss”, pode ser explicada de várias maneiras, mas pode ser resumida a um encontro íntimo com o que há de mais verdadeiro em nós mesmas, com a nossa natureza mais profunda, com a nossa alma. “Existe um encantamento nesse encontro, a sensação de estar em um momento especial, cheio de significado. Vive-se a sensação de estar repleto de vida, de sentir-se emocionalmente muito envolvido. Por mais que a jornada tenha sido árdua, ela culmina com essa sensação de plenitude”.

Alcançado esse estado, é hora de retornar, de levar ao mundo todo o aprendizado dessa jornada, de se expressar na vida social a partir de sua verdadeira essência. “O ciclo termina com o viajante trazendo ao mundo cotidiano o que descobriu em seu caminho, o tesouro, a dádiva encontrada no percurso. Apesar de toda jornada trazer uma grande transformação pessoal, ela tem de conter uma dimensão maior: é necessário que essa transformação seja, de alguma forma, “doada” para o coletivo”.

O próprio Campbell diz que, na realidade, passamos por várias jornadas ao longo da vida. E é com a seguinte frase que as autoras terminam a introdução do livro e partem, então, para as histórias imperdíveis e extremamente inspiradoras das quinze heroínas escolhidas: “O que julgo ser uma boa vida é aquela com uma jornada do herói após a outra. Você é chamado diversas vezes para o domínio da aventura, para novos horizontes. Cada vez surge o mesmo problema: devo ser ousado? Se você ousar, os perigos estarão lá, assim como a ajuda e a realização ou o fiasco. Existe sempre a possibilidade do fiasco. Mas existe também a possibilidade da bliss”.

E você, já disse sim para a sua jornada?

6 comentários

  1. Precisa de alguém que já está em sua jornada para ter a percepção tão fina quanto a Thays. Ela é uma companheira em começo de jornada que, tenho certeza, vai levar ela longe para dentro de si mesma.
    Monika

  2. Que bom meninas!
    Como é bom ler uma jornalista que se exprime de uma forma tão natural e profunda como a Tahys.Parece que a cada comentário vamos aprendendo um pouco mais sobre a grande jornada da vida. Parabéns à vocês e vamos crescendo neste caminho que nos levará ao futuro.
    Regina Figueiredo.

  3. Anônimo disse:

    Oi Tahys…….vem conosco!!!!!….continue sua jornada…..voce ja percebeu que esta nela ne???? ….rsrsrsrsrsrsrs……nao desista….
    va em frente……e……..qualquer coisa, estamos aqui, rsrsrsrsrs
    seguindo as nossas e disponiveis para voce, no livro, no Blog.
    por e-mail, nos sonhos……por ai…..

    beijao

    Heloisa Paternostro.

  4. Anônimo disse:

    Já iniciei esta jornada também.
    É maravilhoso ver que mesmo os fiascos nos ajudam a melhorar!
    Abraços e sigam firmes, nos braços do Pai!!!
    Sol

  5. Anônimo disse:

    Difícil fazer/seguir/viver a "tal jornada".
    Pra mim sempre falta algo que nunca atingirei…
    Alguma sugestão? Aceito palpites…

    SUCESSO!!!!!!

    kisses

    Edna Galdino (Ctba) edm_g05@hotmail.com

  6. Anônimo disse:

    Edna, desculpe a demora em te responder!

    Se vc está na viagem, não falta nada: como dissemos em nosso livro é mais importante o processo que o produto! "O caminhante faz o caminho ao caminhar…" Se, como diz Campbell vc está se sentindo, de fato, viva, já está na Jornada!

    Um grande abraço
    Cris

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